quarta-feira

A linha do horizonte

Talvez no fim do giro do globo, onde as últimas horas se demonstram rotineiras e inúteis, surge uma luz capaz de iluminar uma consciência obscura, um último clarão de idéia toma posse do corpo.
A percepção silenciosamente noturna, como um oceano feroz contra o céu de grafite, do qual se escuta ao longe o vai e vem das águas e acentua a sensação de mar presente, traz um fluxo de pensamentos que como ondas encharca meu raciocínio.
Assim como a areia macia de praia boa não nos deixa por si só, também necessito mergulhar em lagrimas, para que elas façam em minha alma o que o mar faz com a carne.
Sinto-me instigado a despir-me de todo pensamento duro que um dia após varias lutas contra o instinto, passou a habitar a parte inferior da ampulheta de minha memória.
Possivelmente hoje, quando tudo se mostra confusamente claro, possa eu ver o sol nascer atrás das pedras e iluminar com seu celestial brilho a primeira aurora nesse novo céu que vislumbro, que sofre uma metamorfose tardia, que há de transformar todo o cinza em um límpido azul infinitamente eterno.
O fluxo constante dos dias e a ilimitada imaginação deste pobre de espírito têm negado a ele a visão do dia que nasce. Essa venda intelectual necessita ser tirada, um suicídio moral e um novo ângulo de conduta talvez me façam perceber que após as ultimas horas vem as primeiras, e mais apaixonado que o choro de quem sofre é o sorriso de quem vive.
O mistério da morte que tão insistentemente ofusca o olhar da vida tem trancado a todas as chaves o segredo temporal escondendo a confissão derradeira:
O morto não é somente aquele que deixou de viver, é também o que ainda não nasceu. A vida é o horizonte.

3 comentários:

Anônimo disse...

É aquilo que te falei, tem um EU aí que busca passar percepções, expondo os próprios sentimentos e olhares subjetivos, o que é de conhecimento comum, no entanto, dizendo (o que arrisco nomear) o óbvio de forma inusitada, como só se faz um poeta.
Quando escrevo, ninguém entende muito bem se não souber parte da história, ou mesmo fazer parte dela. Fica tudo nas entrelinhas, num ar de "O que é? O que é?" e quem não participa, entende de forma diferente. O que acho legal, cada um entende pelo viés da própria experiência.
Gosto de como escreve.

Anônimo disse...

bem assim:
''cada um entende pelo viés da própria experiência''


parabens Jefferson, adoro como escreve...

=)

Anna Paula

amanda disse...

grata pela visita moço!
adorei aqui também.
um beijo.