domingo

Ao Tingir do Sol

Desabam sobre mim estrelas como se fossem pingos de chuva. Quebram no asfalto como vidro e brilham esfareladas até diluírem-se.

Inundam todo corpo, espaço e tempo. No céu abrem-se rachaduras enormes, cristal que aos poucos vai se partindo, a noite cede. A escuridão vai sendo ocupada por raios – quase trovões - de luz.

As estrelas liquefeitas tornam-se sangue e começam a preencher as ressecadas veias. Faz-se vida onde nada havia, poesia onde havia falta, pausas musicais onde havia silêncio.

A claridade cega. É como se as cores todas caíssem ao chão e reluzisse ao longe um horizonte monocromático.

Atiro o sono com tanta força que rompe minha bolha de sabão. Não há dor. Livre observo meu corpo sem alma, meus suspiros frios, minha auto-saudade.

Eis um segredo intimo: eu coexisto. Meus sonhos são satélites de mim.

Acordo.

Lá fora o Sol em tons de laranja ocupa o posto deixado pela Lua.

O que seria vazio se enche de cor.